sábado, 23 de dezembro de 2017

Lomba de Arões... uma aldeia com muralhas de ouro...

Ainda me lembro do dia em que em plena feira de artesanato de Vila do Conde, quase escondida no fundo de uma parede de uma entre muitas barraquinhas de artesãos, vi esta foto retratando uma aldeia que me fez parar e dirigir-me á artesã que ali estava, perguntando qual e onde era aquela aldeia. lomba de Arões era o seu nome e por isso, há que partir á descoberta. Na melhor das companhias (porque tudo é bem melhor quando é partilhado) lá fomos em busca de mais uma aventura. Partindo em direção a Vale de Cambra, tomamos em seguida o sentido de São Pedro do Sul, para, no alto da serra, encontrar em Chão de Carvalhos, a entrada para a estrada que nos haveria de levar ao nosso destino. A estrada serpenteou toda a encosta numa cota elevada e quando nos pareceu querer começar a descer, eis que vislumbramos as primeiras habitações da aldeia. Após estacionar junto a um placard informativo, preparamo-nos para iniciar a nossa caminhada. Descendo por uma pequena viela, vimo-nos rodeados da ruralidade e da calmia de um povoado que vive a um ritmo tão diferente do nosso, onde tudo parece andar ao sabor dos rebanhos de cabras que a povoam e das jornadas de labuta nos campos, que aqui se penduram encosta abaixo, em socalcos bem aproveitados, transformando a íngreme elevação que sustenta a aldeia, num belo e engenhoso trabalho dos homens, que ao longo dos tempos, domaram o terreno, fazendo com que o até então solo selvagem e pouco propício ás atividades agrícolas, se tornasse num belo conjunto de parcelas aráveis, onde o verde escuro das árvores, gestas e urzes, se faz aqui substituir pelo verde claro do milho e das videiras e o amarelo dos girassóis e espigas de milho, que por estas terras, são o ouro do seu povo. Ainda antes de nos embrenharmos nesses campos, fomos levados a conhecer o alto dessa pequena elevação, que alberga um conjunto de edifícios de xisto e a alva e imaculada capela, rodeados por uma "muralha" de espigueiros, que ali foram construídos, para aproveitar cada raio de sol, aquecendo e secando o seu precioso conteúdo e ao invés dos tradicionais castelos, onde o tesouro era guardado no mais interior, forte e escuro dos edifícios, aqui, ele está ás vistas de todos, nessas  estruturas de "filigrana" granítica, frágeis na aparência, mas robustas na sua constituição.
Este é o centro nevrálgico da aldeia, pois é nela que se encontra a capela onde cada novo membro nascido do povoado era anunciado com o rebate dos sinos e onde era mais tarde acolhido e apresentado a todos no dia do seu batizado. Ali está também a eira onde os frutos do trabalho eram expostos e onde as desfolhadas e malhadas juntavam e aproximavam os seus habitantes em horas de trabalho, mas ao mesmo tempo convívio prazeroso, animado pelas cantigas e danças, em que todos participavam e das quais guardam ainda hoje belas recordações. É também aqui que se encontra o seu "banco", esses espigueiros que guardam o seu sustento e bem mais precioso que é o milho. E é também aqui que, envolto em grades de ferro e guardado por um velho e pesado portão se encontra o local onde tudo se acaba... tudo chega ao seu fim.
Tudo isto existe em outros povoados bem sei, mas nunca sentira num tão reduzido espaço, esse estranho mas natural convívio entre todas estas fases da nossa vida, parecendo, a quem espreita ao largo, que as habitações distantes de apenas algumas dezenas de metros desta praça viva e sobranceira a ela, são uma parte passiva desta aldeia, como que ali construídas propositadamente por forma a que os seus idosos, mesmo que incapazes de participar nessas vivências diárias, pudessem no entanto, á janela de suas casas, continuar a observar o "sangue" correr nessa "azáfama bucólica" de uma típica aldeia serrana!

João Fernandes

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